quinta-feira, 28 de abril de 2011

Qualquer coisa, me liga!


Sou uma pessoa intensa, passional. Quando  faço alguma coisa é sempre  da melhor maneira possível.  Acho que ainda é resquício da minha infância/juventude.Sou a última dos nove filhos de  Sr Arnaldo e Dona Luiza. Como costumam dizer pelaqui no Nordeste sou ponta de rama, raspa de tacho. Nasci franzina e assim permaneci até a juventude. Pela minha fragilidade física sempre fui alvo das brincadeiras dos meus irmãos mais velhos. Por isso decidi que se não pudesse vencer pelo meu porte e força, venceria  pela qualidade. E assim fiz. Por menor que fosse a tarefa sempre procurei desempenhá-la com dedicação e de maneira original  para poder me destacar  e mostar que, apesar da aparência frágil, eu tinha meu valor. Mas, deixemos de bolodoros e vamos ao que interessa.  Por conta dessa minha dedicação a tudo que faço fica implícito que minhas atitudes são sempre fiéis ao que penso e falo.  E o pior é que acredito que as outras pessoas também são assim.  Ou gostaria que  fossem. Pensamento errado da goitana, sô!  E aprendi isso da pior maneira possível. Quando enfrentamos dificuldades ouvimos das pessoas que nos cercam  palavras  de apoio belíssimas, mas que na hora da ação, do pega pra capar caem no vazio. Quer um exemplo?!  Qualquer coisa, me liga! Todo mundo já ouviu essa frase em algum momento da vida, mas já parou pra ver até aonde vai a sinceridade dela?! Se alguém testou e teve retorno positivo, parabéns! Porque eu dancei  sem que a música tocasse quando esbarrei na “qualquer coisa” e resolvi “ligar”. E olhe que não era coisa do outro mundo, não. Apenas dar uma olhadinha em minha irmã portadora de necessidades especiais  quando fiquei sem secretária e precisei  ir ao médico. Não teve uma alma penada que me socorresse, mas desculpas por não poder dar o apoio solicitado, ah, ai teve de tuia e cada uma mais bonita e esfarrapada  do que a outra. Impressionante como as pessoas repetem esses chavões mesmo sabendo que não irão cumprir o que falam. Talvez nem saibam exatamente o que estão  dizendo, mas como é politicamente correto disparar esse tipo de frase na hora da angustia alheia, as pessoas   vomitam na nossa cara essas e outras para ficar bem na fita,  mesmo que depois se descubra que não houve sinceridade ou mesmo vontade de ajudar  seu semelhante.  Melhor ficar calado do que falar o que não pode cumprir. Morde a língua, sô, mas não fala besteira pra dar uma de bom samaritano sem ser. Às vezes o silêncio é mais confortador do que palavras vazias, sem sentido e que nunca serão cumpridas. Até hoje fico nauseada quando escuto o tal “qualquer coisa, me liga”. E às vezes quando necessito falar isso  pra alguém, fico constrangida imaginando se a ela acreditará no que estou dizendo. Ai acrescento: “estou falando sério, não é da boca pra fora, não, como já ouvi muitas vezes”. E quem me conhece sabe muito bem que se eu prometo, cumpro, mesmo que dê macaco em 90, como dizia minha velha e querida mãe. 

Créditos: Imagem: Olhares; Cluster  by Janet B